Theresa Abelha
Orelha do livro Potência e negatividade na poesia de Fernando Pessoa (Belo Horizonte: Veredas
e Cenários, 2011).
Este novo livro de Lélia Parreira Duarte, em que a interface texto-imagem se apresenta,
responde à questão de como o ponto de vista negativo pode tornar-se fecundo em termos
artísticos. Percorre para tanto os temas preferidos da poética pessoana que apontam para a
tragicidade da humana condição, o vazio, a falta, a perda e a consciência da finitude, a
partir de duas vias que se complementam: a análise de poemas tendo como suporte pensadores
como Blanchot e Agamben, convidados ao diálogo teorético que se estabelece com poemas de
Fernando Pessoa e a metamorfose que promove ao traduzir para um outro suporte semiótico – o
desenho e a pintura – obras do poeta de Orpheu. Assim, duplamente, pela senda crítica e pela
plástica, a autora comprova a potência salvadora da criação que transmuta a impotência dos
significados humanos, primeiro e definitivo passo para a comunicação, na potência sempre
outra, renovável sempre, do significante, reconhecendo o que a filosofia contemporânea tem
evidenciado: o paradoxo de que a morte é o mais fecundo paradigma da negatividade produtiva.