Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim, nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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Fernando Pessoa. In: Poemas de Fernando Pessoa. Sel., pref. e posf. de Eduardo
Lourenço. Lisboa: Visão / JL, 2006, p. 33.
Artista: Lélia Parreira Duarte.
Título do quadro: Fernando Pessoa e seus heterônimos.
Técnica: Acrílica sobre tela.
Dimensões: 100 cm x 70 cm.
2010.